quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Início - Capítulo 1


Estava em um dos meus constantes sonhos estranhos, onde tudo parece mítico e empolgante, quando de repente me liberto de toda a magia e mergulho no mundo real, incluindo mães histéricas que ficam te gritando até você acordar e descer para tomar o café da manhã.
         Bom, eu ainda não me apresentei, meu nome é Zoe Miller, tenho 16 anos e... Não posso dizer que sou uma típica nova-iorquina, por que estou longe de parecer típica ou normal - a não ser que conseguir mover e explodir coisas seja absolutamente natural. Realmente eu tento de tudo para me encaixar na sociedade atual, mas parece que isso é impossível, comigo coisas estranhas sempre acontecem.
        
         - Bom dia mãe! Que cheiro delicioso - disse percebendo só agora que meu estômago estava roncando

         - Bom dia Bebê! Estou fazendo panquecas. Já fez a lição de casa?

         - Hum - rum - respondi distraidamente 
        

Ela fala comigo como se eu ainda tivesse cinco anos, quer dizer, eu já tenho 16! Acho que na sua concepção serei eternamente seu bebê. Mães. Sinto muita falta do papai, apesar de não possuir nenhuma lembrança dele a não ser um colar estranho que mamãe diz ser muito especial - o que eu não acredito muito- quer dizer, ele tem o formato do símbolo do infinito, sabe, tipo um 8 deitado, além de parecer vindo de uns 1542562 anos antes de Cristo, nem sei quando é isso, mas deve ser bem perto do período jurássico. Mas ainda sim é do meu pai e, por isso o guardo com muito carinho.

Um barulho, mas especificamente a buzina do ônibus escolar, me acordou dos meus devaneios. Oh Meu Deus, estou realmente atrasada! Peguei minha mochila rapidamente e sai de casa com os meus tênis nas mãos, a tempo de gritar uma despedida a minha mãe.

Sentei no meu lugar de costume ao lado do meu único e fiel amigo, Will Nicholls.

- Oi Will - o cumprimentei

- Atrasada outra vez? - disse apontando para os tênis que eu ainda não havia calçado.

- Ah! Não enche!

- Tudo bem - deu de ombros

Na verdade eu gosto muito do Will, apesar de estar sempre me perguntando por que ele anda comigo, normalmente as pessoas me acham um pouco assustadora, mas ele diz que isso é só impressão minha. Às vezes eu acho que ele fala isso só por que é meu amigo e não ia querer me magoar.
Eu não culpo as pessoas de acharem isso de mim, quero dizer, verão passado quando um garoto do 3º ano acusou Will de disparar o alarme de incêndio, eu fiz uma cadeira voar e pender perigosamente acima de sua cabeça, felizmente eu não o machuquei. Eu comentei sobre o incidente com Will, mas ele estranhamente disse que não viu nada, e perguntou se eu estava fumando drogas. O garoto foi internado depois de alegar que eu era um tipo de feiticeira do mal. Desde então ninguém fala ou senta comigo, sou completamente ignorada. Idiotas.
Saltamos do ônibus em direção à sala de matemática. E pra minha [in] felicidade já dei de cara com a professora Margareth. Ou estou desenvolvendo algum problema psicológico ou ela sempre me olha com uma cara meio aterrorizante, acho que não é bem essa palavra, mas certamente parece bem desconfiada.

- O que esta fazendo aqui? - disse ela com o seu tom usual (isto é, totalmente anormal)

- Hmm, se eu não me engano, estudar, quer dizer, esta é a minha sala - respondi reprimindo um sorriso.

- Tudo bem! Vamos começar classe - disse a toda a turma numa alegria meio forçada, que estranho a um segundo atrás ela estava me observando com um olhar inquisidor. A coroa pirou de vez.

As aulas correram rapidamente, depois de Matemática, veio a de geografia e, na de biologia, enquanto o professor Paul estava explicando pela décima vez o que eram platelmintos (argh!) a professora Margareth me chamou. Todos me observaram com um olhar ‘ ihh, se ferrou’ .Quando Margareth chama, o aluno só volta uma semana depois. O que será que eu fiz dessa vez?

Quando já estava fora de vista ela me puxou agressivamente pelo braço.

- Ei! me solta!

Ela fingiu não me ouvir, continuou andando apressada pelo corredor segurando meu braço firmemente. Parou e disse repentinamente:

- Quando começou?

- Ei! Do que você está falando? Quando começou o que? - disse puxando meu braço
- Não se finja de idiota, seu aniversário de 17 anos é daqui a três dias, os sinais já deveriam estar aparecendo.

Em algum lugar um extintor explodiu e, junto com sua fumaça branca a minha raiva foi fluindo, estava prestes a ter um colapso.

A professora calçou suas luvas e mexeu nos bolsos, a procura de alguma coisa. Minha raiva de repente se esvaiu e deu lugar a surpresa, estava estupefata. Ela mostrou um colar igualzinho ao do meu pai.

- Reconhece isto? - disse assustadoramente, olhando o pingente com nojo

Engoli em seco.

- Reconhece isto? - repetiu sibilante

Margareth estava vitoriosa, quase explodia de excitação.
Não tenho certeza, mas parecia que ela estava mudando. Senti que estava em apuros. A minha antiga professora obcecada, estava ondulando descontroladamente, transformando-se em mil coisas inimagináveis que nem posso tentar descrever.
De repente uma luz começou a sair do centro de seu peito inundando o lugar em um espiral atordoante e, por impulso tapei meus olhos, mas mesmo assim o brilho ainda continuava cegante.
O mais estranho era que a luz não era comum, clara, vibrante. Era negra.

Ouvi alguém correndo em nossa direção e, para minha felicidade Will apareceu no corredor.

- Will!

- Corra Zoe! - gritou com urgência
   
Não pensei em nada, nem sequer olhei para trás, corri como nunca havia corrido na minha vida.